Coletivos de Mulheres e o Preconceito Velado: Um Desafio em Comunidades Locais

Coletivos de Mulheres e o Preconceito Velado: Um Desafio em Comunidades Locais
Photo by Catherine Kay Greenup / Unsplash

Viver em uma cidade pequena pode trazer a sensação de pertencimento, onde rostos familiares e laços comunitários parecem estar sempre por perto. No entanto, para mulheres trans e outros grupos marginalizados, essa proximidade também pode se transformar em um obstáculo à inclusão, marcado por preconceitos velados e estruturas sociais resistentes à mudança.

O foco aqui é a luta enfrentada por um coletivo de mulheres em Piranguinho. O coletivo, formado por mulheres cisgênero e transgênero, busca fomentar espaços de diálogo e acolhimento, criando formas de promover espaços mais dignos sobre mulheridade na nossa cidade. Contudo, mesmo sob uma gestão municipal liderada por uma mulher, o grupo enfrenta uma barreira inesperada: a falta de reconhecimento e apoio institucional, onde recebemos muitas negativas para usufruir dos espaços públicos municipal, como o Teatro e o Museu para fazermos nossos encontros. Para as mulheres trans em particular, essa realidade é ainda mais cruel, pois elas frequentemente enfrentam discriminações que se manifestam de formas sutis, mas igualmente excludentes.

Liderança Feminina e a Questão de Gênero

Um dos aspectos mais intrigantes dessa história é a contradição percebida na liderança feminina. Muitas vezes, espera-se que mulheres em posições de poder sejam mais empáticas com questões de gênero e inclusão. No entanto, em Piranguinho, a experiência do coletivo mostra que a liderança feminina não necessariamente traduz-se em avanços para todas as mulheres. Em vez disso, há uma resistência velada a temas ligados à diversidade, talvez por pressões sociais ou pela busca de manter o apoio de segmentos mais conservadores da comunidade.

Conforme o Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal, 65% das mulheres da região Centro-Oeste foram vítimas de violência doméstica e não denunciaram.

Dados inéditos permitem conhecer a realidade das brasileiras nas diferentes regiões do país e o nível de violência doméstica a que estão submetidas, e como este estado de medo reflete em nosso municipio até mesmo espaços destinados à promoção de direitos. (https://www.senado.leg.br/institucional/datasenado/mapadaviolencia/#/pesquisanacional/subnotificacoes)

Fonte: Senado Federal

Mas estes números não bastam, pois a relação entre o coletivo e a administração pública liderada por mulheres é marcada por silências e respostas evasivas, que acabam impactando ainda mais o esteriótipo de violências. Propostas de parceria e iniciativas foram frequentemente ignoradas ou rejeitadas sob justificativas burocráticas e denuncias falsas em 2024, a fim de desmobilizar e desacreditar o coletivo.

Diego Velázquez, em o Banheiro de Vênus (1647-1651)

Conforme Hilde Coffé, emseu livro Gender and the Radical Right, a extrema-direita ultrarradical é composta majoritariamente por população masculina e propõe idéias ultra-conservadoras em relação à estrutura familiar e a extinção do direito à mulher, velado sob a idéia de proteção à família ultra-cconservadora e rica. Em nossa micro sociedade municipal, este formato de política reflete no desmantelamento da cultura e educação, gerando um impacto emocional e social,refletindo ainda mais o contexto de despertencimento aos direitos das mulheres.

O Peso do Preconceito Velado

O preconceito enfrentado pelas mulheres trans em pequenas cidades nem sempre é manifesto de forma direta. São os olhares, os cochichos e a falta de engajamento que criam um ambiente hostil e dificultam o acesso a espaços seguros. No caso do coletivo, isso se traduz em dificuldades para organizar eventos, acessar verbas ou mesmo garantir que seus membros sejam tratados com dignidade em espaços públicos.

Mulher LGBTQIA+ segurando uma bandeira do arco-iris, foto Gui Mohallen/VoteLGBT

Para as mulheres trans, as barreiras são amplificadas pela invisibilidade. Sem apoio institucional, iniciativas que poderiam promover conscientização e educação acabam não alcançando a população em geral. Essa invisibilidade não apenas perpetua estereótipos, mas também reforça a ideia de que essas questões não são relevantes ou urgentes.

Mulheres Cis e Trans lutando juntas pela visibilidade. Foto por Beta Brandão

Resiliência e Caminhos para o Futuro

Apesar das dificuldades, o coletivo segue resistindo. A união entre as integrantes e o apoio de parceiros da sociedade civil têm sido fundamentais para manter viva a luta por igualdade e reconhecimento. Oficinas de formação, rodas de conversa e a mobilização em redes sociais são algumas das estratégias utilizadas para superar as barreiras.

Peça de teatro foi impedida de se apresentar em Piranguinho. Foto/Divulgação por Coletivo de Mulheres de Piranuinho

Entretanto, para que avanços reais aconteçam, é essencial que há um compromisso mais firme por parte do poder público e da comunidade em geral. Isso inclui o reconhecimento formal do coletivo, o apoio a eventos inclusivos e, sobretudo, o enfrentamento do preconceito de maneira direta. Apenas assim será possível construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva, onde todas as mulheres, independentemente de sua identidade de gênero, possam viver com dignidade e respeito.